domingo, 28 de julho de 2013

Sob A Influência De Um Novo Trabalho


5 de Julho, uma data tão comum como outra qualquer mas com temperaturas "meteorologicamente" altas. Recebo uma mensagem via telemóvel da minha mulher. Senti o telemóvel vibrar no bolso da camisa, tirei-o e li o SMS: "Tás a aguentar o calor?..." Olhei em volta: eu estava no main deck de um navio em ferro ainda em construção dentro de uma doca seca num dia de verão, que será o mesmo que dizer que estava no interior de um forno. Ali perto um operário soldava uma qualquer peça fundamental no teto, soltando um aguaceiro de pingos incandescentes e provocando relâmpagos que pareciam incendiar o ar; não muito afastado de mim também um outro operário equipado com óculos de proteção trabalhava com uma rebarbadeira elétrica eliminando aparas metálicas de um corte acabado de fazer. O ruído daquela ferramenta elétrica tornava quase impossível qualquer comunicação verbal com os meus colegas de trabalho. Aliás, quando tirei o telemóvel do bolso tinha acabado de berrar com a minha boca quase colada ao ouvido de um deles uma instrução de trabalho. Atrás de mim a luz fulminante de um maçarico a cortar uma placa metálica feria os olhos de quem quer que olhasse acidentalmente para aquela operação. Como ruído de fundo havia ainda trabalhadores no exterior do navio que corrigiam um empeno na superfície do casco martelando uma secção metálica com um malho de 5 kg numa cadência ritmada que ressoava por toda a nave, fazendo os tímpanos vibrar. Concentrei-me novamente na mensagem que acabara de receber. Premi as teclas virtuais para responder: "Sim, está calor."

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