"September", Gerhard Richter, 2005, óleo s/ tela, 52 cm x 72 cm |
A questão da estética pode ser abordada sob o que se poderia chamar uma perspetiva ambiental e que pode ser entendida como o constatar de que em diversas ocasiões ocorre uma
subcorrente estética – no sentido de aesthesis (ver "Uma Questão de Estética") - mesmo que esta não seja predominante[1]. Uma obra de arte, e em
particular uma boa obra de arte, pode ser identificada e compreendida numa
dessas ocasiões quando se reconhece a obra dentro de três critérios: proporção,
equilíbrio e complexidade da ocorrência da corrente estética[1]. Um exemplo para
ilsustrar este raciocínio poderá ser a obra “September” de Gerhard Richter.
Aquando do atentado de 9/11 às torres gémeas em Nova York, Gerhard Richter terá
observado, por exemplo, a beleza das cores das chamas aquando do embate de um
dos aviões. Obviamente declarar tal coisa poderá ser encarada como algo
horrendo. Mas estamos na presença de uma daquelas situações em que ocorre
indubitavelmente uma subcorrente estética. Ao pintar o quadro “September”
Gerhard Richter tomou para a obra aqueles três critérios estéticos– proporção,
equilíbrio e complexidade – transpondo uma ocasião terrível para uma obra de
arte.
Por
oposição ao quadro de Richter temos as imagens que nos bombardearam a mente de
forma constante - e que são hoje um ícon, aliás – pelos mass media onde todas as características da formalização de uma
obra de arte poderiam estar presentes não fossem aqueles três critérios ditarem
outra coisa: pelo menos, no que toca aos critérios de proporção e equilíbrio da
corrente estética daquela ocasião (ou acontecimento) faz-nos constatar que não
estamos perante uma obra de arte nem de imagens de uma obra de arte mas apenas que estamos a ser informados. O “bombardeamento
imagético” dos mass media com
aquelas imagens leva-nos ainda a outro conceito-base da experiência estética: o
conceito de perceptual commons (em português: perceptivos comuns)[1]. O perceptual common é, digamos, um direito
que não pode ser reclamado juridicamente, de acesso direto, e qualquer
restrição a esse acesso é considerado um desvio dessa condição. Para ilustrar: tenho o direito de, ainda que não o possa reclamar juridicamente, de caminhar na rua sem ser incomodado pelo mau cheiro que o vento traz a partir de um esgoto afastado. Outro exemplo: tenho o direito de estar num café e não ser bombardeado com imagens horríveis de uma catástrofe a todo o momento pelos noticiários da TV. O conceito de perceptual
commons leva-nos para outro campo da experiência estética, o campo que não
se prende meramente com a crítica e análise da arte mas afasta-nos daí em
direcção a um sentido mais abrangente da experiência estética (sempre enquanto aesthesis): a da forma de estar no
mundo do homem e da sua condição humana[1]. A arte "apenas" poderá ser uma das formas de estar do homem e uma das formas que a condição humana assume.
[1]Arnold Berleant, "Sensibility and Sense",2010
Para saber mais:
Arnold Berleant, "The Aesthetic Field", 1971
Arnold Berleant, "The Aesthetics of the Environment", 1992
Arnold Berleant, "Sensibility and Sense",2010
"Gerhard Richter in the Studio", uma entrevista com G. Richter no Youtube (clique aqui)
"Gerhard Richter in the Studio", uma entrevista com G. Richter no Youtube (clique aqui)
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