sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Uma Questão de Estética

Cy Twombly, "Paisagem", 1951, tinta industrial, óleo e colagem, 27,9 x 53,3 cm

Não é raro uma pessoa menos instruída questionar um artista quanto à estética da sua obra. E menos raro ainda será questioná-la segundo o seu próprio gosto, arriscando-se a confundir os dois conceitos (estética e gosto). Há muita obra artística espalhada por museus e exposições que definitivamente também eu não gosto mas que vejo forçado a admitir que, caramba, são arte! E ainda por cima são arte evoluída!
Mas do que se fala quando se fala de estética?
Em qualquer dicionário poderemos encontrar uma primeira definição de estética como sendo o ramo da filosofia que estuda o belo; ou a ciência cujo objeto é o juízo de valores referentes à distinção entre o belo e o feio. A etimologia da palavra, no entanto, diz uma coisa bem mais abrangente: [do grego] aesthesis, a perceção pelos sentidos. Esta é uma definição transversal a várias culturas e cujo objeto - o belo - é a qualidade que provoca uma emoção, i.e., o atributo que qualifica os objetos ou obras que se oferecem à (nossa) perceção. No domínio artístico, esses objetos ou obras não carecem de entendimento antes que a subjetividade (ou seja, a interpretação, a sentença pessoal) seja solicitada ao apreciador dessas obras ou objetos. Por exemplo: uma máquina de café e um quadro de Cy Twombly (para ser bem abstrato, vá) são ofertadas à perceção de um indivíduo. A máquina de café não solicita (pelo menos imediatamente) a subjetividade do indivíduo, pois é de senso comum qual a aparência e funcionalidade desse objeto. O quadro de Cy Twombly, por outro lado, e até porque é abstrato, solicita imediatamente a subjetividade do apreciador: ele terá uma interpretação muito sua do que os seus olhos vêem e que muito provavelmente será diferente da de outros observadores perante a mesma obra. E é depois dessa solicitação da subjetividade - e por conseguinte, de uma emoção - que começa o trabalho de entendimento de uma obra de arte.
Em arte o belo propõe obras que visam sempre agradar ao apreciador ainda que muitas vezes elas sejam desagradáveis. Muitas vezes é aquilo a que eu chamo O Princípio do Pug*: são tão feios, tão feios que se tornam belos. Pressupõe-se por isso que há uma intenção por parte do criador da obra artística em proporcionar uma experiência estética ainda que esta não seja do nosso agrado. Posso não gostar de uma quadro de Dalí mas o modo como tal obra corporiza a sua aesthesis levam-me a admitir que é arte.


* Pug: raça de cães de companhia oriunda da China (podem vê-los aqui)

Para saber mais:
[De um dicionário de filosofia do qual tive acesso a fotocópias mas que infelizmente não me foi dado a conhecer a edição original]

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